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Outra boa história de traição

E eis que me deparei com um conto do dia a dia… Tão ricamente ilustrativo e temperado que nem parece ficção. O autor, que escreve para o seu próprio deleite, casualmente me mostrou seu escrito e logo pedi permissão para usá-lo aqui. Achei suas palavras cheias de força e fluidez – difícil encontrar este equilíbrio! Assim sendo, deixo-os com esta fofoca literária criada por uma mente despretensiosa e brilhante.

 

Outra boa história de traição

de Diego Menezes, Bacharel em Física pela UFC

Como toda boa história, essa também começou com uma traição. Quero dizer que nunca fui santa; por outro lado, também nunca fui a tal da moça de família. Ele tinha 33 e eu 22. A diferença de idade poderia ser um problema e, em retrospectiva, talvez fosse. A questão é que, sendo nova como era, e com hormônios à flor da pele, o meu objetivo era de copular com a maior quantidade possível de machos da espécie humana. Assim sendo, era uma questão de tempo, então, até que as fofoqueiras do bairro fizessem minha inquisição. No entanto, nada parecia abalar a paixão fulminante que Xico Bento sentia por mim. Jamais esquecerei de seu semblante de felicidade quando me via, mesmo quando eu chegava em casa de carona com o padeiro, ou com o leiteiro… ou, ocasionalmente, até com ambos.

Se a bebida não me prejudicou a memória, Xico fazia o típico papel de homem meigo e doce – do tipo que daria um bom pai de família. Sem exageros, isso foi o suficiente para que fosse inevitável traí-lo com toda a vizinhança. Naturalmente, a notícia se espalhou e nossa história de romance chegou ao fim. Senti tanto a perda que passei meses enclausurada, de cama, sem ver a luz do sol. Eu mais parecia um vampiro! Tudo que me consolava era ouvir o programa de rádio que ele adorava escutar. Era um programa de piadas e ele dizia que aquilo amenizava a saudade que sentia quando eu fazia hora extra na padaria. Eu o desdenhava e, após as voltas que o mundo costuma dar, hoje sou eu quem não vivo sem o programa. Não sou lá fã de comédia, mas sinto saudade. Talvez saudade de sua saudade, mas ainda assim saudade, e sincera.

Certa vez, ouvindo o rádio ao sabor de minhas lágrimas e melancolia, sintonizei no “Hora do Abate”, programa de músicas românticas em que os casais se declaravam. Foi aí, então, que ouvi a mensagem de Xico para uma tal de Mônica. Aquilo sim foi meu fim… Tive que expulsar o leiteiro lá de casa com a desculpa de indisposição. Foi daí que me veio uma ideia à mente: aquele rádio na cabeceira que um dia foi o elo de ligação entre ele e eu, no fim de tudo acabou por me destruir.

 

 

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Márcio Correia

Graduado em Psicologia e Inglês, pela UMHB, nos EUA, e com cursos de aperfeiçoamento em gerenciamento e marketing feitos ao longo de sua vida, Márcio é um entusiasta e adora gente, cultura, festas e novidades. Já morou nos EUA por muitos anos e sempre que pode encontra novos lugares para conhecer. Acumula boas experiências nas áreas da música, moda, design, arquitetura e organização de eventos. Já foi colunista em um jornal local e atualmente organiza eventos sociais e empresariais, além de ser professor de inglês e assinar a coluna OCASIONAIS para o Portal ConceituAdo

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