Com o intuito de fomentar a visibilidade de artistas cearenses e valorizar a cultura regional, o RioMar Fortaleza lança, no mês de junho, o projeto CE em Cena. A iniciativa oferece o espaço do teatro para que talentos locais apresentem espetáculos de diversos segmentos, destinando 100% da venda dos ingressos para os próprios artistas. A estreia do projeto será com os atores Haroldo Guimarães e Igor Jansen, que sobem ao palco com o espetáculo Ópera em Cordel, uma adaptação da ópera Turandot, de Giacomo Puccini para o português, contada em versos no estilo cordel – e com bastante cearensidade no processo de execução, sem dúvida alguma!
Os atores Haroldo Guimarães e Igor Jansen conversaram sobre a “Ópera em Cordel” com a Coluna Ocasionais. Eis o que eles disseram.
O que é o projeto “CE em Cena” e qual é o seu objetivo?
Em termos gerais, é um projeto do RioMar Fortaleza em uma iniciativa que apoia os artistas locais, fornecendo um palco para que possamos apresentar nossos trabalhos e sermos vistos e reconhecidos, com a garantia de que o dinheiro das vendas dos ingressos será integralmente destinado a cada artista. É uma alegria que eu e o Igor sentimos em termos a missão de cantar nossa cultura e o melhor teatro de Fortaleza querer nos ajudar. É preciso deixar claro: eu não vou pagar nada ao teatro para levar isso que eu levei quatro anos pra fazer. Isso simplesmente viabiliza meu trabalho. É mais que apoio, é viabilização, entende? E o efeito disso é inestimável. Por exemplo, como estimar o efeito do edital que viabilizou o filme Cine Holliudy? A partir dali, eu, Edmilson, Halder Gomes, o próprio Igor que fez o Shaolin depois, e muitos outros artistas puderam aparecer e viver de arte! E as pessoas da técnica? Há todo um ecossistema hoje do audiovisual. Quando o RioMar deixa de ganhar dinheiro num dia nobre como o dia 22 de junho, de noite, ele está promovendo cultura e ocupação na nossa cidade. Eu faço questão de dizer isso.
Haroldo, como foi o processo de adaptação da ópera “Turandot” para o formato cordel?
Desde que eu comecei, durou quatro anos. Eu peguei o livreto original em italiano da ópera, traduzi para o português e escolhi as cenas que ia manter adaptei algumas coisas, editei um poucos alguns personagens. Depois, dividi em 60 parágrafos, cada um com sete linhas, e cada linha com sete sílabas poéticas. Chamamos isso de septilha, e é um dos formatos mais comuns do cordel, geralmente no esquema de rimas XAXABBA*.
*A septilha é uma estrofe de sete versos, frequentemente utilizada em literatura de cordel. Geralmente, cada verso possui sete sílabas (heptassílabo). O esquema de rimas mais comum é XAXABBA, onde X é um verso que não rima com nenhum outro, A, B e C indicam versos que rimam entre si.
Quais desafios vocês enfrentaram durante a produção do espetáculo?
O primeiro desafio foi da adaptação da obra para o formato de cordel e, posteriormente para um formato dramatúrgico. Depois, como eu optei por trazer humor, amor e música, eu fiz uma enorme pesquisa musical pra encontrar canções brasileiras conhecidas do povo para ilustrar cada acontecimento. Da ópera original, só ficou uma ária: todas as outras intervenções musicais são coisa da nossa cabeça. A montagem disso é difícil. Os atores tem que saber contar história, saber cantar, ser engraçados e saber fazer drama. Agora, imagina decorar 60 estrofes sem errar nenhuma silaba? Isso é importante porque o elemento rítmico é fundamental.
Como vocês veem a importância da valorização da cultura regional no Brasil?
A valorização da nossa cultura regional é o nosso objetivo no espetáculo e uma meta de vida. Tanto eu como Igor achamos que é uma missão nossa. A cultura cearense nos deu tudo, e nós gostaríamos de mostrar para as pessoas que ela é inesgotável e esse espetáculo é só uma amostra pequena. Quando você valoriza sua própria cultura, sobretudo a nossa que é tão pujante, você encontra emprego e renda mais simples e fácil, favorece o turismo cultural e melhora a autoestima de um povo. Sei nem o que seria mais importante que isso!
O que o público pode esperar em termos de interação durante as apresentações?
Isso é uma preocupação nossa, sim, a interação do público. Porque quem compra ingressos para ver o nosso show espera rir bastante, algumas piadas sobre cearensidade, uma vaia cearense aqui e ali, etc., mas, dessa vez, faremos tudo isso sem dizer nenhum palavrão, garantindo a censura livre, e com mais dramaturgia.
Igor, além deste projeto, quais são seus próximos planos artísticos?
No momento o nosso foco total é esquentar o espetáculo e seguir numa turnê nacional que é inaugurada exatamente neste dia 22 de junho, no teatro Rio Mar. Provavelmente vamos a Portugal ao final dessa turnê, passando pelo Recife, outras cidades do Nordeste, Rio, São Paulo… Com certeza te darei as datas quando tivermos essa agenda.
Eu e o Haroldo gravamos o Shaolin do Sertão 2, que será lançado em todos os cinemas até o final do ano. Ali também estamos em dupla. Como diz o meu pai, somos predestinados desde o início a sermos amigos, o que é uma honra para ambos, eu diria. O Haroldo diz que não conhece ninguém da minha idade que cante, interprete e conte estória. Eu acreditei!
Como surgiu a ideia de adaptar uma ópera para o estilo cordel, Haroldo?
Eu já conversava com os amigos sobre esta ópera e, quando eu era solteiro, usava a estória para encantar as meninas. Depois vi que contar isso no modo cearense era engraçado, sobretudo se eu intercalasse a explicação com cantoria. Eu consigo cantar algumas árias de ópera, e costumava impressionar cantando Nessun Dorma, que é a canção central na trama. Depois, para dizer o texto da ópera em forma de poesia e com dramaturgia, é que teve quatro anos de trabalho a mais, muito estudo e tempo.
Quais são as suas expectativas para a estreia do espetáculo “Ópera em Cordel” no Riomar?
Eu não tenho a menor dúvida, pelas leituras que já fizemos e ensaios realizados, que será um encontro lindo da nordestinidade. Temos uma alta expectativa de que o público vai gostar e fazer propaganda, porque estamos sobre ombros de gigantes. O cordel é muito forte, conseguiu se popularizar inclusive para pessoas que não sabiam ou até não podiam ler, como o Patativa do Assaré. Fixar uma história dentro da rítmica e em forma de poesia é meio de disseminação da cultura que já provou ser eficiente, e em tempos de muito mais carência. E também não tem como as canções escolhidas, os atores selecionados e a própria história que vamos contar não agradarem.
Você pode nos contar um pouco sobre as personagens na peça?
O personagem principal da ópera é Turandot, filha do imperador da China, que não queria se casar de jeito nenhum, mas aceitou fazê-lo caso o seu pretendente acertasse três charadas. O que ela não esperava é que um príncipe desconhecido tivesse êxito nas adivinhações. Esse príncipe desconhecido e o narrador da história serão funções revezadas entre mim e Igor Jansen. Um elenco de apoio incrível materializará o que o narrador falará no palco.
Marina Mesquita fará Turandot, Victor Alen fará uma personagem de nome Macabeia, em homenagem à obra “A Hora da Estrela de Clarice Lispector”, e minha mãe, Eliedira Trigueiro, de 88 anos, fará o papel de Edineia.
Haroldo, como é trabalhar com o Igor Jansen?
Trabalhar com o Igor é muito fácil por fatores de ordem técnica e de ordem pessoal. Tecnicamente falando, o Igor é um veterano já que atua desde a infância, e tem facilidade de decorar, disciplina e compromisso. Canta muito bem também, muito melhor que eu. Já pessoalmente falando, ele é um véi… acorda cedo, dorme cedo e adora trabalhar. Quando estávamos viabilizando a produção, antes que eu pedisse ele veio pra Fortaleza – atualmente Igor mora no Rio – e fez questão de visitar parceiros importantes e de fazer prospecções comigo. Aonde que eu com 21 anos iria viajar pro Ceará, famoso, só pra trabalhar? Então deu liga. Fora o fato de sermos amigos desde a primeira parceira, no Shaolin do Sertão.
Igor, como é trabalhar com o Haroldo Guimarães?
Trabalhar com o Haroldo sempre é uma alegria muito grande, desde o nosso primeiro encontro no Shaolin do Sertão. Além de fã, eu sou muito amigo dele e nossa amizade se fortaleceu muito ano passado quando gravamos a novela No Rancho Fundo juntos. Haroldo Guimarães é simples e complexo, ao mesmo tempo – ele vai da comédia ao drama num piscar de olhos. Amo trabalhar com ele.
Conheça os artistas
Ator, humorista, advogado e professor de Direito, Haroldo Guimarães é um artista de múltiplas facetas. Com uma carreira consolidada de mais de 20 anos, o cearense já deu vida a personagens marcantes, como Munízio, de Cine Holliúdy; Primo Cícero, de No Rancho Fundo; e o Fanho, de Shaolin do Sertão.
Igor Jansen descobriu seu verdadeiro talento na infância. Com nove anos de carreira, estreou no cinema em 2016, interpretando Piolho no filme O Shaolin do Sertão. Desde então, o artista vem se destacando em diversos papéis em diferentes emissoras.
Serviço
CE EM CENA – ÓPERA EM CORDEL
Domingo, 22 de junho de 2025
Múltiplas Sessões: 18:00 e 20:30
Ingressos a partir de R$ 40,00
Teatro RioMar Fortaleza
Abertura da casa: 1h antes do início de cada sessão.
Duração: 80 min
Classificação livre
Compra – https://uhuu.com/evento/ce/fortaleza/ce-em-cena-opera-em-cordel-14720
Menores de 14 anos, somente poderão entrar acompanhados dos pais ou responsáveis. Crianças até 24 meses de idade que ficarem no colo dos pais, não pagam.
A ópera de Giacomo Puccini
Turandot é uma princesa chinesa, filha do Imperador Altum, que rejeita o amor por causa de um trauma familiar: sua antepassada, a princesa Lo-u-Ling, foi violentada e morta durante a invasão tártara. Pressionada a casar, Turandot impõe uma condição: quem quiser desposá-la deve resolver três enigmas; se errar, será executado. O príncipe Calaf, filho de um rei tártaro deposto, aceita o desafio, resolve os enigmas e conquista o direito de casar-se com ela. Porém, para não obrigá-la, propõe um novo desafio: se ela descobrir seu nome antes do amanhecer, poderá matá-lo. Assim, Turandot ordena que ninguém durma até descobrir a identidade do forasteiro — momento em que se canta a famosa ária “Nessun dorma”.